segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Cuidados com o Ensino de História

“De fato, em troca de informações de jornal (antes fosse de jornais; geralmente são informações “de internet”, sem paternidade ou de paternidade duvidosa), cuja relevância ainda está para se firmar, não se ensina nada de processo civilizatório, nada de monoteísmo ético dos hebreus (base do cristianismo), nada de filósofos gregos (base do pensamento ocidental), nada de direito romano (base do nosso), nada de Europa medieval, de Renascimento, mercantilismo e Descobrimentos, nada de Bach e Mozard, de Dante e Camões. Os professores acabam abrindo mão de conhecimentos fundamentais em troca de informações de importância duvidosa. Informações buscadas sem cuidado e consumidas rapidamente, que não deixam uma marca. E, mais grave, os professores desistem de buscar uma aproximação (e identificação) dos alunos com o patrimônio cultural da humanidade.
E qual é o papel do mestre senão estabelecer uma articulação entre o patrimônio cultural da humanidade e o universo cultural do aluno?
Ora, a presença do homem civilizado neste planeta tem poucos milhares de anos, durante os quais tem causado terríveis males: destruímos sem dó a natureza, submetemos os mais fracos, matamos por atacado e varejo, deixamos um terço da população mundial com fome, exterminamos índios, causamos a morte de muitas civilizações e a desaparição de um sem-número de línguas. Mas, diga-se a nosso favor, não é só isso que fizemos. Escrevemos poesia sublime, peças de teatro envolventes e romances maravilhosos. Criamos deuses e categorias complexas de pensamento: tentamos compreender o que nos cerca, investigamos o universo e o átomo. O professor de História não pode ficar preso apenas a modos de produção e de opressão (embora isso seja fundamental). Pode (e deve) mostrar que tivemos a capacidade, graças à cultura que produzimos, de nos vestir melhor que os ursos, de construir casas mais seguras que o joão-de-barro, de combater com mais eficiência que o tigre, embora cada um de nós, seres humanos, tenha vindo ao mundo desprovido de pelos espessos, asas ou garras. Cada estudante precisa se perceber, de fato, como sujeito histórico, e isso não se consegue apenas com histórias de família, de bairro, ou da cidade. Nós nos sentimos agentes históricos quando nos damos conta dos esforços que nossos antepassados fizeram para atingirmos o estágio civilizatório a que chagamos. Para o mal, mas também para o bem.
A aceleração do tempo histórico está deixando claro que devemos estar preparados para ocupar um espaço na sociedade globalizada. A percepção do conjunto de movimentos que estão sendo executados no mundo exige, por parte dos nossos jovens, uma cultura que vai além da técnica.
História neles..."  

Jaime Pinsky 

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