domingo, 29 de novembro de 2015

Despedidas



A vida é uma despedida constante,
Despedimo-nos da felicidade,
Quando se desfaz o sorriso.
Despedimo-nos da lágrima que cai,
Quando molha nosso rosto e seca sobre a pele.
Despedimo-nos da paz,
Quando armamo-nos para a guerra.
Despedimo-nos quando termina um beijo,
E os olhares se encontram.
Despedimo-nos no êxtase do prazer,
Quando saciamos o desejo.
Despedimo-nos da ignorância,
Quando aprendemos.
Despedimo-nos da razão,
Quando a emoção nos controla.
Despedimo-nos das estrelas,
Quando chega o amanhecer.
Despedimo-nos da dor,
Quando nos tornamos fortes.
Despedimo-nos da vida,
Quando deixamos de sonhar.
Despedimo-nos da morte,
Quando falecemos.
Despedimo-nos do amor,
Não, do amor, jamais despedimos.
Para o verdadeiro amor,
Não existe despedida. 

Rafaela Molina

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Grupo Escolar Dr. Flamínio Lessa: A Importância Social da Escola


“Não só ao poeta, mas também a historiadores incumbe recuperar lágrimas e risos, desilusões e esperanças, fracassos e vitórias; fruto de como os sujeitos viveram e pensaram sua própria existência, forjando saídas na sobrevivência, gozando as alegrias da solidariedade ou sucumbindo ao peso de forças adversas”. (VIEIRA, 2007, p.12)


Através do espaço que me foi confiado pela revista: ‘O Melhor de Guaratinguetá’, pretendo continuar meu trabalho de pesquisa a respeito da História Regional do Vale do Paraíba, especialmente, a história da nossa cidade Guaratinguetá. Como membro do Instituto de Estudos Vale-paraibano (IEV), tenho a honrosa missão de continuar o trabalho de preservação da memória e valorização da história. Para inaugurar esse estudo, quero ressaltar a importância da memória dos cidadãos. Memórias pouco valorizadas pelos nossos dirigentes estaduais, pois, compreendo que fechar museus e escolas é uma atitude que resultará em males gravíssimos para a identidade e memória da população. E infelizmente, isso vem ocorrendo em nosso município. O museu Conselheiro Rodrigues Alves encontra-se fechado desde 2008; o museu Frei Galvão continua aberto graças à luta da guardiã da história vale-paraibana e diretora do museu, Theresa Maia. O estabelecimento de ensino: “Escola Estadual Dr. Flamínio Lessa”, além de ser uma instituição pública é um patrimônio histórico municipal e estadual, agora, será fechada!
Iniciaremos nossa jornada histórica pelo patrono da escola; afinal, quem foi Dr. Flamínio Lessa? Filho adotado por nossa cidade, advogado de São Paulo efetivou sua carreira em Guaratinguetá. Nasceu em 1820, no momento em que o Brasil se preparava para tornar-se Império. Foi promotor público e juiz de direito; defendia o partido liberal no momento em que o Brasil se dividia entre liberais e conservadores, considerado por muitos, um liberal abolicionista, em decorrência de suas atitudes de caridade com os escravos. Ao falecer em 1877, deixara sua residência no largo do rosário, (Praça Conselheiro Rodrigues Alves, atual diretoria de ensino), ao governo provincial, para que ali implantasse um estabelecimento de ensino público, salientando sua preocupação com a educação da cidade. Respeitando sua vontade, por decreto de 02/01/1895, foi inaugurado imponente prédio “Grupo Escolar Dr. Flamínio Lessa”, que futuramente passaria ser a Escola Normal de Guaratinguetá. O Grupo Escolar Flamínio Lessa foi instalado posteriormente em outro local da cidade; este que nos interessa.
O atual prédio da escola inaugurado no início da Primeira Guerra Mundial, 1914 a 1915, para servir de quartel militar (por isso, a arquitetura com torres). A partir de 1920 o prédio passou a abrigar o Grupo Escolar Dr. Flamínio Lessa, atualmente escola Estadual, localizado à Rua Tamandaré, 145- Centro. É importante reforçar que devido seu valor arquitetônico, é considerado patrimônio histórico municipal e estadual. Visitas ilustres trespassaram por essa escola, na década de 1940, o presidente da República - Getúlio Vargas, marechal Dutra e o interventor do Estado - Adhemar de Barros. Mas, como nem tudo são flores, o colégio já passou por imensas dificuldades. Em uma quarta-feira, 12 de agosto de 1992, foi publicada no jornal da cidade a notícia de que a Prefeitura de Guaratinguetá ordenou a interdição imediata da E.E.P.G. Flamínio Lessa. Nessa época, o prédio construído, somava 90 anos, e nunca havia sido reformado ou restaurado. Professores lutaram por sua reforma e a maneira encontrada pela prefeitura de efetivar essa reforma por parte do Estado, foi interditando-a, uma vez que o Estado não demonstrava interesse nessa obra, colocando em risco a vida de 1.600 alunos, pois o telhado ameaçava cair, a escadaria de madeira estava se quebrando e as fiações elétricas encontravam-se expostas, ameaçando causar um incêndio. Por tanto, para afastar as crianças desses riscos, a escola foi interditada. Os moradores do bairro, alunos, pais e professores, foram protestar nas ruas com cartazes, cobrando a reforma imediata e eficiente do prédio, para os alunos voltarem a estudar na escola do bairro, com segurança. Em novembro do mesmo ano. A cidade saiu vencedora com a liberação do decreto do Estado autorizando a reforma da escola, com o prazo de entrega de 365 dias. Merecidamente, alunos e professores retornaram ao antigo e restaurado prédio.
Aproximadamente 23 anos após a interdição do prédio, a escola volta ser ameaçada pela política estadual. Presentemente, com a reorganização escolar, a Escola Estadual Dr. Flamínio Lessa será novamente fechada. O novo questionamento é: O que será feito com esse patrimônio histórico municipal e estadual? Sabemos que abandonado e sem cuidados, ele não poderá ficar, visto que, faz parte da memória e da identidade dos guaratinguetaenses. E devemos nos lembrar da preocupação do patrono Dr. Flamínio Lessa com a educação da cidade. Esse pequeno artigo é apenas um exemplo, da importância de termos memória e não deixarmos os fatos caírem no esquecimento.

Profª Esp. Rafaela Molina de Paiva

Presidente Getúlio Vargas e Marechal Dutra

Artigo Publicado da Revista "O Melhor de Guaratinguetá" 8ª Edição                         

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

História da América: Civilização Maia


A Civilização Maia é considerada um enigma para os historiadores e arqueólogos do século XXI. Uma sociedade pré-colombiana altamente desenvolvida.
Essa civilização se localizava na América Central, Sul do México, por volta de 700 a.C a 1200 d.C. Sua História é dividida em três fases: Alvorecer (700 a. C), Expansão (900 d. C) e Crise (1200 d. C). Suas principais cidades eram Chichen-Itzá, Mayapán, Tikal, Copan, entre outras.
A sociedade Maia era um complexo de cidades- Estados autônomos, ou seja, não centralizado, porem com alguns elos culturais que veremos mais adiante. Cada Cidade-estado é governada pelo Halach e este deveria consultar o Conselho dos Anciãos, não tendo por tanto o poder supremo. Os cargos da Sociedade eram divididos entre os “Homens superiores”, que tinham a função religiosa e administrativa; os “Homens inferiores, homens comum, trabalhadores que prestavam serviço ao estado”.
A economia dos Maias era baseada na agricultura e comércio, com trocas comerciais. Existia tributo sobre o comércio e o excedente econômico, mas não havia um sistema tributário bem organizado.
Religiosamente eram politeístas e seu livro sagrado era o Popol Vuh. Suas crenças e existências eram ligadas aos astros, ao tempo cíclico e os fenômenos climáticos. Seus sacerdotes-astrônomos tinham total conhecimento e controle sobre a vida Maia. E a religião era o elo que ligava os povos Maias e era a função das pirâmides escalonadas. Não podemos esquecer também que em seus rituais praticavam sacrifícios humanos e de animais.
A cultura Maia é riquíssima e enigmática. Foram construtores de grandes monumentos e pirâmides, entre elas a mais importante é a pirâmide de kukulklan em Chichen-Itzá. Tinham grande conhecimento em arquitetura, arte e astronomia, criavam diques e terraplanagem. Suas histórias e mitos eram gravados em pedras (glifos), e símbolos que representavam sílabas ou sons. Também tinham esporte, um jogo de bola chamado Pelota, onde o vencido morre como sacrifício e é considerado herói.
Mas nada se iguala a maior criação desse povo, que até hoje é um mistério, a Roda Calendárica Maia, tão complexa e exata, cheia de profecias e controle do tempo, da matemática, da astrologia e astronomia. É chamada de Roda Calendárica por que é um conjunto de calendário, o Tzolkin, calendário sagrado de 260 dias e o Haab, o calendário Solar de 365 dias. O tempo para os Maias é cíclico e determinado, o calendário é cheio de profecias e crenças religiosas. Alias eles deixaram 7 profecias gravadas em Estelas, profecias que falam de um novo ciclo, de mudanças, de fim do mundo, mudanças climáticas, astrologias e etc. Tudo o que podemos ver e viver hoje no século XXI, por tanto são profecias e alertas.

Esses são os tão falados, mas pouco conhecidos povos Maias. Que ainda hoje nos deixam perplexos diante de tanto misticismo e complexidade de um povo pré-colombiano que deixou seu legado gravado nas estelas em forma de profecias para o mundo.

Rafaela Molina

Saudade!


Saudade dos sonhos,
Que sonhei.
Saudade da paixão,
Que senti.
Saudade dos toques,
Que desejei.
Saudade do olhar,
Que invadiu-me.
Saudade dos abraços,
Que arrepiaram-me.
Saudade do instante,
Eternizado no silêncio do olhar.
Do seu olhar castanho,
Seu olhar,
Que despia-me,
E poetiza-me. 
Rafaela Molina 

domingo, 18 de outubro de 2015

Apenas um Jardim


O vento acaricia meu rosto,
Encontro-me no verde do jardim,
Ao som da orquestra das cigarras.

No anoitecer,
Sinto-me reviver.
No silêncio,
As cigarras,
Não caladas.
Sinto meus cabelos a dançar,
No ritmo das ondas sonoras,
De seus últimos momentos de vida.

A noite cai,
E as cigarras também,
A luz se vai,
E o som da orquestra,
Cala-se!

Diante do quadro,
Pintado por Deus:
Natureza,
Pude presenciar,
Sentir,
E apreciar.
Num rápido instante,
Do esperar,
Esperar,
A orquestra parar,
E o fluxo da vida,
Cotidianidade e agitação,
Continuar...

Assisti,
A poesia e a arte,
Daquele jardim,
Sendo interrompida,
Pela realidade da buzina,
E o corre corre,
Da vida urbana,
Aumentando,
A ânsia da menina,
Por poesia. 
Rafaela Molina 

Entre Ditaduras

Dutra,
Com sua conduta,
Conservadora,,
O SALTE criou.

Vargas,
Populista,
Nacionalista e Protecionista,
Aumentou os direitos trabalhistas.

JK,
Mudou a Capital,
Em seu Plano de Metas,
Investiu na energia,
Na saúde,
E na área industrial,
Criou estradas e rodovias,
E seus 5 anos valeu por 50. 

Jânio Quadros,
Estrábico,
Não sabia qual política seguiria,
Capitalista ou Comunista?
Teve neutralidade na Guerra Fria,
Congelou salários,
aumentou o custo de vida,
A moral saneou,
E o governo renunciou. 
Sua vassourinha quebrou,
Abrindo espaço,
Para seu vice governar.

João Goulart,
Sua fama comunista,
E suas ideias reformistas, 
Fez seu governo findar.
O golpe foi dado,
Do governo foi retirado,
Iniciou-se a censura e tortura,
Com os militares no governo,
a história foi marcada pela ditadura.

Contexto em que,
Está poesia seria proibida,
E a aula de História
 Esquecida. 
Maria Luiza Siqueira
Profª Rafaela Molina
,



domingo, 11 de outubro de 2015

QUERO QUE VOCÊ ME ESQUEÇA


Quero que você me esqueça,
Mas faça isso com cuidado,
Quero que seu coração aqueça,
Ao lembrar-se que já foi amado.
Quero que você me esqueça,
E por mim,
Não ser mais lembrado,
Enxugue as lágrimas do rosto,
E as feridas do peito,
Lembre-se que,
Ainda é só um moço,
E terá muitos amores outros.
Quero que você me esqueça,
Para um dia se tornar distante,
Essa dor dilacerante,
Essa saudade que enlouquece.
No futuro,
Tudo será lembrança,
Lágrimas e sorrisos se misturaram,
Com as mãos trêmulas,
Apanhará os óculos para ler as antigas cartas,
Cartas de amor,
Cartas de dor,
Cartas de calor.
Se lembrará dos abraços sublimes,
Do toque das mãos suadas,
Do cheiro do corpo ao transpirar,
Da música ao tocar,
E de todas as sensações,
Únicas,
De quem soube amar.
Um dia vamos nos lembrar,
Sem mais sofrer.
Mas hoje,
Quero que você me esqueça,
Para eu poder te esquecer.

Rafaela Molina





terça-feira, 29 de setembro de 2015

Marxismo e Educação

A Europa no século XIX passou por uma revolução que trouxe profundas mudanças nas relações sociais e econômicas mundiais- A Revolução Industrial, que acentuou a exploração do trabalho assalariado e o antagonismo das classes sociais: burguesia, detentores do capital industrial e proletário, trabalhadores assalariados dependentes do capital industrial. A partir desse contexto, surgiram muitas teorias contra essa desigualdade social: o socialismo utópico francês, comunismo soviético e marxismo alemão.
Esta última teoria merece atenção, pela sua aplicação na teoria da educação. Karl Marx um pensador alemão que aderiu a militância comunista, desenvolveu uma das teorias mais influentes da história- o marxismo. Marx teve uma atuação marcante na teoria e na prática da política de sua época. Suas obras mais marcantes foram: O Manifesto Comunista, realizado com Engels e O Capital, sua obra prima.
Em sua teoria, Marx nos apresenta o proletariado: trabalhadores assalariados; luta de classes: que seria o grande condutor das revoluções sociais e econômicas, por exemplo: patrícios versus escravos, senhores feudais versus servos e capitalistas (burguesia) versus trabalhadores assalariados (proletário); materialismo histórico: baseado nos meios de produção e a alienação: onde a ideologia da classe dominante seria imposta à classe dominada. Neste caso, a educação organizada pelas instituições políticas subservientes ao sistema de produção capitalista, terá grande poder de alienação das massas, perdendo apenas para a mídia que tem um maior alcance social.
Para Marx, a educação precisa ser transformadora e não reprodutiva, educar precisa ser um desafio social e por isso é preciso superar uma sociedade voltada à produção aos bens de consumo, que despreza a natureza humana e histórica. Para ele, deveria ter a união entre trabalho, instrução intelectual, exercício físico e treino politécnico, para a elevação da classe operária. Neste caso, a educação não seria um instrumento de alienação, uma simples produtora de mão de obra, ensinando apenas uma função específica e básica. Mas seria, um instrumento de emancipação da classe operária, uma educação transformadora, com formação humana, intelectual e não opressora.

Marx acreditava que através da educação seria possível a Revolução do Proletariado, que resultaria em uma sociedade sem classes, por tanto, sem desigualdade social. Podemos dizer,  que o marxismo é uma luta em prol das classes subalternas, dominadas pela ideologia capitalista. Marx nos apresenta uma alternativa de uma nova sociedade que só será possível através da luta de classes, da superação do meio de produção capitalista e de uma educação socialmente transformadora.

Profª Rafaela Molina

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

HISTÓRIA REGIONAL E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA: PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS PARA A DIDÁTICA DA HISTÓRIA

HISTÓRIA REGIONAL E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA
Perspectivas Metodológicas para a Didática da HistórIA

PAIVA. Rafaela Molina de[1]
PROBST, Melissa[2]

RESUMO

Diante dos desafios acerca do ensino de história e da formação da Consciência Histórica do aluno, propomos a utilização da teoria da História Regional como base metodológica da Didática da História, objetivando o estudo e a pesquisa acerca da formação da Consciência Histórica, dentro e fora da sala de aula. Nessa perspectiva, a micro-abordagem da História Regional ganha destaque como metodologia do ensino de história, considerada uma forte ferramenta para a formação da identidade do aluno e aperfeiçoamento da sua Consciência Histórica. Considerando algumas perspectivas teóricas e conceituais da Ciência Histórica como, a História Regional, a Didática da História e a Consciência Histórica busca-se apresentar e desenvolver alguns caminhos metodológicos que possibilitem a formação e o aperfeiçoamento da Consciência Histórica do aluno, através da utilização da micro-abordagem da História Regional, e tendo por base o conceito alemão Geschichtsdidaktik, que significa uma Didática da História subordinada a Ciência Histórica, ao invés de submetida à Educação. Pretendemos, portanto, apresentar através deste artigo, alguns autores e teorias discutidas por historiadores e educadores, acerca do ensino de história significativo e formador da Consciência Histórica dos indivíduos.

Palavras-chave: História Regional. Consciência histórica. Didática da história.
1. INTRODUÇÃO
A História ensinada nas escolas possui caráter teórico, o que a leva ao distanciamento da realidade dos alunos. Mas de que maneira o professor deve agir noprocesso de ensino-aprendizagem em sala de aula e fora dela. Nossa proposta é trabalhar com a teoria da História Regional, na formação e aperfeiçoamento da Consciência Histórica. A partir disso, se faz o questionamento: Será possível a teoria da História tornar-se prática e fazer sentido para a realidade dos alunos? Pode-se esperar que os alunos aprendam história, sem que compreendam a própria história?
As crianças entram na escola com sua Consciência Histórica inicial, passam pelo ensino fundamental e médio, estudando história, disciplina na qual aprendem história geral e do Brasil. No entanto, a história regional, essa mais próxima dos alunos e que faz parte de seu contexto e realidade, é pouco abordada, pois não pois não está incluída nosmateriais pré-estabelecidos e unificadores de conhecimento- apostila e livro didático. Por isso a importância do professor ser pesquisador, para que domine a prática de pesquisa da história regional, fazendo com que esse conhecimento científico e historiográfico se transforme em um conhecimento escolar, dando sentido ao ensino de história e trabalhando no aperfeiçoamento da Consciência Histórica do aluno.
As histórias que fazem parte dos locais e regiões em que se vive, têm tanta importância quanto as histórias nacional e internacional, trabalhadas na disciplina escolar. Portanto, é interessante utilizar a pesquisa histórico-regional, como ferramenta metodológica de ensino-aprendizagem em sala de aula, para uma maior compreensão dos fatos históricos e da dinâmica histórica, para a formação da consciência histórica e crítica do aluno.
No entanto parte-se do pressuposto de que os professores de História, assim como o currículo do Ensino Básico de São Paulo ainda valorizam pouco as pesquisas e abordagens acerca da História Regional como teoria e metodologia no processo de Ensino e Aprendizagem nas disciplinas de História. Destaca-se que a História Regional pode ser uma eficiente ferramenta para formação e aperfeiçoamento da consciência histórica do aluno.
Esse trabalho procura, assim, reunir reflexões acerca do Ensino de História, com fundamento nas teorias da Didática da História, tendo como teoria norteadora a História Regional, objetivando o estudo acerca da formação e aperfeiçoamento da Consciência Histórica.

2. História Regional: Uma abordagem historiográfica em sala de aula.

Para iniciar essa discussão acerca da História Regional, considera-se necessário compreender a definição do conceito regional. Segundo o dicionário, região é uma “Área com características próprias que a destacam de outras áreas. Pode ser parte de uma cidade, um município, um estado, uma província ou do mundo”. Para uma melhor compreensão do regional, precisamos recorrer a ciência “irmã” da história, a geografia, uma ciência que se firma em constante relação com a ciência histórica, uma vez que a história acontece em um espaço geográfico, lugar onde a sociedade está em constante movimento. A ciência geográfica define região comoespaços delimitados segundo suas características naturais e sociais, com interesse de planejamento, estudos e intervenções administrativas. Podemos definir a abordagem historiográfica da História Regional tomando como referência a Marcos Lobato Martins (2009. p.143), que em seu artigo História Regional, apresenta as seguintes considerações:

História Regional é aquela que toma o espaço como terreno de estudo, que enxerga as dinâmicas históricas no espaço e através do espaço, obrigando o historiador a lidar com processos de diferenciação de áreas. A História Regional é a que vê o lugar, a região e o território como natureza da sociedade e da história, e não apenas como o palco imóvel onde a vida acontece. Ela é História Econômica, Social, Demográfica, Cultural, Política e etc.[...] Na verdade, a História Regional constitui uma abordagem específica, uma proposta de estudo da experiência de grupos sociais historicamente vinculados a uma base territorial.

Portanto a História Regional não deve ser entendida como contraponto da História Nacional, mas como um ponto de partida e complementação desta. A história nacional acaba tendo uma visão generalizadora da história e da sociedade. E é essa visão que a História Regional é capaz de superar. E ainda de acordo com Circe Bittencourt (2008, p.161):

A história regional passou a ser valorizada em virtude da possibilidade de fornecimento de explicações na configuração, transformação e representação social do espaço nacional, uma vez que a historiografia nacional ressalta as semelhanças, enquanto a regional trata das diferenças e da multiplicidade. A história regional proporciona, na dimensão do estudo do singular, um aprofundamento do conhecimento sobre a história nacional, ao estabelecer relações entre as situações históricas diversas que constituem a nação.

Então entende-se que a macro abordagem da história gera a homogeneização das culturas, dos pensamentos, dos sentimentos, dos desejos, do agir dos homens, dos grandes acontecimentos e da criação de heróis, tendo como objetivo a legitimação da ideologia hegemônica das classes dominantes, em detrimento das classes subalternas, destacando as semelhanças do povo, ao invés de priorizar as diferenças culturais, que enriquecem a história.

[...]a partir dos séculos XV e XVI, as barreiras espaciais começaram a ser progressivamente destruídas, promovendo o desencravamento de muitas regiões. A irradiação planetária do domínio europeu fez surgir a “verdadeira história universal” e colocou as escalas nacional e internacional no topo das preocupações dos historiadores. A expansão da modernidade, do Estado, do capitalismo e das filosofias universalistas (típicas do Renascimento e do Iluminismo) tentou pôr fim às singularidades e autonomias das antigas regiões. O ataque à independência da fortaleza regional é o trabalho continuo da modernidade. ( MARTINS, 2009, p.143.)

Contudo, a micro abordagem permeia um novo caminho para a história regional, sendo relevante destacar as singularidades culturais, étnicas e sociais, aproximando a história do homem no seu espaço geográfico, social e cultural, onde sua história acontece e faz parte do grande enredo nacional. A abordagem estudada apresenta o regional e o local como foco da vida de grupos e indivíduos.
A valorização dessa heterogeneidade possibilita o fim das discriminações e intolerâncias étnicas e culturais, colocando em destaque os povos menos favorecidos e que vivem à margem da história política nacional. No entanto, a história regional não abandona a abordagem política, predominante da historiografia tradicional positivista, mas inclui em seus estudos as abordagens social, econômica e cultural, e busca valorizar a integridade do homem social e o seu “quintal”, colocando-o como agente histórico e contribuindo com a formação da consciência histórica deste.
Por isso essa abordagem se torna importante no processo de ensino e aprendizagem em sala de aula, pois poderá formar a consciência histórica do aluno, aproximando essa ciência (história) de sua realidade. Como ressaltam as autoras Maria do Rosário Cunha Peixoto, Maria do Pilar de Araújo Viera e Yara Maria AunKhoury (2007, p.12), em seu livro A pesquisa em história, ao utilizarem a citação de Gullar (1999),

A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas.
Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta as pessoas e as coisas que não têm voz.(GULLAR, 1999, p. 07 apud PILLAR, 2007.)

E as autoras complementam,

Não só ao poeta, mas também a historiadores incumbe recuperar lágrimas e risos, desilusões e esperanças, fracassos e vitórias, fruto de como os sujeitos viveram e pensaram sua própria existência, forjando saídas na sobrevivência, gozando as alegrias da solidariedade ou sucumbindo ao peso de forças adversas. (VIEIRA, 2007, p.12)

Cabe aos historiadores não somente tratar da história dos vencedores, mas também dos vencidos, e, nesse aspecto, as novas abordagens têm colaborado, pois é com estas que se fez possível a compreensão da sociedade.
E isso só foi possível com o processo historiográfico que surgiu na França em 1929, em torno de uma revista de historiadores e cientistas sociais, que conquistou o mundo acadêmico com a sua História Nova.  Referimo-nos a Escola dos Annales, que a partir de um movimento científico inovador, em torno da revista Annales d’HistoireEconomique et Sociale, sugeriu novas teorias, metodologias, temas e fontes, acerca da pesquisa histórica. Fundada por LucienFebvre e Marc Bloch, a Escola dos Annales redefiniu os rumos da pesquisa histórica e conquistou grande prestígio na França e em todo mundo acadêmico. Os historiadores annalistes, como passaram a ser chamados,

influenciaram decisivamente o modo como se produz história no resto do mundo, propondo novos objetos, e mesmo antigos objetos e procedimentos metodológicos à luz de abordagens teóricas inovadoras. (VASCONCELOS, 2009, p.54)

Apesar deste trabalho não se tratar de uma pesquisa historiográfica acerca da Escola dos Annales, é importante fazer uma breve apresentação desta, que foi a percussora da História Regional. A Escola dos Annales representou uma crítica à escola tradicional positivista e procurou superá-la. A chamada História Nova veio renovar as antigas concepções positivistas de história e apresentar ao mundo uma nova abordagem da pesquisa histórica, a História-Problema. Marcada também pela sua interdisciplinaridade, aqui a história dialoga com outras ciências humanas, como a geografia, sociologia, filosofia e psicologia. Ela também dilui a importância do sujeito individual como agente histórico, dando maior importância às questões impessoais, como o econômico, o social e o cultural. Ou seja, para a História Nova as grandes mudanças da sociedade não acontecem através de um indivíduo ou somente da política, mas sim, através do meio social, econômico e cultural, e das ações coletivas de todos os homens, de todos os tempos. Porém o espaço da História Regional como conhecemos hoje é de meados da década de 1970 como afirma Bittencourt (2008, p.161)

[...]a pesquisa de história regional a partir de 1970 cresceu bastante em razão do esgotamento das macroabordagens, que enfatizavam as análises mais gerais e não se detinham nos estudos mais particulares que melhor indicavam as diferenças da história recente do País. (BITTENCOURT, 2008, p. 161)

Como podemos perceber, a Escola dos Annales colaborou bastante com as mudanças no campo da história, introduzindo novos temas, novas abordagens, novas fontes de pesquisa e enriquecendo as metodologias. Essa historiografia representou uma mudança de percepção histórica e, talvez o seu maior feito, tenha sido a substituição da narração positivista pela história problematizante. E é justamente essa visão científica, de pesquisa e ensino, que propomos ser utilizada em sala de aula como base teórica das práticas metodológicas de ensino. Tendo por base essa teoria, da micro abordagem da história regional, os professores poderão desenvolver eficazes metodologias de ensino, capazes de alcançar nosso objetivo, que trata-se da formação da consciência histórica do aluno.
Portanto, cabe aos professores ocuparem também a função de pesquisadores, de modo que se tornem capazes de desenvolver metodologias eficazes no ensino de história, afim de promover a importância da pesquisa regional e local no aprendizado do aluno, do ensino fundamental II. E para reafirmar a importância da História Regional como teoria e metodologia, recorreremos aos Parâmetros Curriculares Nacionais- PCN.
O PCN de História consolida a importância da introdução dos conceitos básicos do ensino de história, como o conceito de tempo/espaço histórico, ainda nas séries iniciais da alfabetização e do ensino fundamentale no aprofundamento desses conceitos durante o ensino médio. O ensino da História Local/Regional se encontra como proposta, durante o ensino fundamental I e II. Contudo, o que gostaríamos de destacar neste trabalhoé a importância do ensino da História Local/Regional, não como uma proposta de ensino-aprendizagem, mas sim, como uma das principais ferramentas metodológicas de ensino, em todos os níveis da educação básica, especialmente durante o ensino fundamental I e II. Percebemos a necessidade de uma maior valorização e utilização desse método, de ensino e de pesquisa, pelos professores e educadores em geral,uma vez que, tais propostas são encontradas no PCN de história.

Algumas das propostas [do PCN] visam também alterar a organização dos círculos concêntricos pela introdução de uma concepção de história local ou de “história do lugar” que procura estabelecer articulações entre o mais próximo (ou o vivido do aluno) e a história nacional, regional e geral ou mundial. [...]a preocupação maior, na atualidade, é estabelecer articulações constantes, nas diferentes séries, entre local, o nacional e o geral. (BITTENCOURT, 2008, p.113)

Ou seja, acreditamos que a educação brasileira precisa ter uma maior preocupação com a articulação entre o nacional, o regional e o local para o fortalecimento da formação da identidade do indivíduo.

Um dos objetivos centrais do ensino de História, na atualidade, relaciona-se à sua contribuição na constituição de identidades. A identidade nacional, nessa perspectiva, é uma das identidades a serem constituídas pela História nas escolas, mas, por outro lado, enfrenta ainda o desafio de ser entendida em suas relações com o local e o mundial. (BITTENCOURT, 2008, p.121)

3. A Importância da História Regional no ensino para a construção da identidade do aluno.
Vivemos em uma era tecnológica e globalizada, onde o individualismo é cada vez maior e a todo momento consumimos informações vindas de todos os cantos do planeta. O mundo está cada vez mais homogêneo, as pessoas compartilham pensamentos e ideais cada vez mais parecidos e as culturas estão perdendo suas particularidades. Como afirma Martins (2009, p.138)“É verdade que a globalização afeta cada quilômetro quadrado da superfície terrestre, aumentando a pressão sobre as culturas tradicionais e sobre as regiões”.
Nesse contexto, aumenta a preocupação dos intelectuais e especialmente dos professores de História em relação a Identidade, como usar a disciplina de História como ferramental para construção da identidade social do aluno em sala de aula, através de pesquisas sobre História Regional.

Essa tendência de as pessoas buscarem raízes, fontes de identidade e segurança psicológica, mobilizando elementos do espaço sócio histórico, aumenta a responsabilidade dos profissionais da História, ao mesmo tempo em que estimula a produção de estudos históricos regionais e locais e valoriza a abordagem regional em sala de aula. (MARTINS, 2009. p.140)

Uma das maiores funções exercidas pela História Regional é de aproximar o conteúdo histórico e científico do aluno, trabalhar a história a partir da realidade do discente, fazendo com que ele se sinta parte do processo histórico, como protagonista, e que compreenda as dinâmicas históricas das vivências humanas, partindo da micro abordagem- História Regional, para a macro abordagem- História Nacional. Os alunos, assim como todos os indivíduos, como afirma Martins:

almejam conhecer e reconhecer o espaço onde vivem, pertencer a ele e apropriar-se dele, na medida exata em que participam das redes de significados e sentidos que a vida ali gera, no decurso da história. (MARTINS, 2009. p.139)

Outros fatores importantes trabalhados em conjunto com a História Regional, são a consciência e a memória pois são elas as responsáveis pela construção da identidade cultural e social. Segundo Thompson, “Recordar a própria vida é fundamental para o nosso sentimento de identidade”.
Será nesse processo de estudo do regional e da identidade social do aluno que iremos trabalhar com metodologias da Didática da História capazes de fundamentar e auxiliar as aulas de história na formação de sua Consciência Histórica, fazendo com que perceba e signifique o processo histórico e seus elementos fundamentais: o tempo, o espaço, as mudanças, as permanências e as fontes. Aprendendo os conceitos, contextos e dinâmicas da história. Assim, tornando o aluno um agente social consciente, observador, científico e problematizador da história, principalmente da realidade na qual está inserido, que faz parte do seu contexto, da sua vida e da sua formação.
Apresentamos aqui um trabalho desafiador aos professores, os quais terão a responsabilidade de organizaros conteúdos e suas metodologias, tornando seu ensino socialmente significativo, capaz de superar a homogeneização da sociedade globalizada.

 4. Consciência Histórica: Formação e Aperfeiçoamento
Estamos vivendo em meio a um grande movimento social em torno do conhecimento histórico, que envolve conteúdos digitais, mídias, cinema, financiamento de pesquisas, editoras de livros, formação de professores, entre outros. Diante dessa realidade assistemática e mundial, os profissionais que atuam na produção e divulgação do conhecimento históricose deparam com um desafio, de investigar e conceituar o processo de formação e aperfeiçoamento do conhecimento histórico, especialmente através de pesquisas acadêmicas e do ensino escolar. Nesse sentido, devemos encarar a Consciência Histórica como uma problemática atual da história. Como se concretiza a formação da Consciência Histórica? Há uma Consciência Histórica primitiva e outra crítica? É possível dividir essa Consciência em fases? Ela é inerente ao homem ou uma meta a ser alcançada? Qual o sentido, enfim, do não desprezível investimento social que existe hoje em torno da história [...]. Muitos são os questionamentos acerca do conceito apresentado e as divergências entre os cientistas da história e da filosofia. Por isso iremos seguir a corrente da ciência Didática da História, que se caracteriza por ser uma ciência dentro da ciência histórica, e fazer uma breve apresentação das proposições e teorias de cientistas como Hans-Georg Gadamer, John Rüsen, Agnes Heller, Marc Ferro, entre outros, baseando-nos na pesquisa de Luis Fernando Cerri.
Considera-se que seja imprescindível a esse trabalho a compreensão de que a Consciência Histórica ultrapassa os muros da sala de aula.Esta consciência é um fenômeno social que tem a escola por instituição que trabalha o aprimoramento dessa capacidade, que é natural ao homem social. Esse fenômeno é entendido como uma das expressões da existência humana. O historiador Luis Fernando Cerri (2015. p.96), nos apresenta um questionamento pertinente, um primeiro aspecto da discussão a considerar é se a Consciência Histórica é um fenômeno inerente à existência humana ou se é uma característica específica de uma parcela da humanidade, uma meta ou estado a ser alcançado. E é neste ponto que se depara com as divergências dos pesquisadores. Na visão do filósofo Gadamer, a Consciência Histórica é uma meta ou um estágio a ser alcançado, mas isso só será possível ao homem contemporâneo ou moderno, que tenha passado pelo processo histórico da modernização.
Contudo, essa visão de Gadamer (2006) pode ser considerada excludente; pois ela exclui a Consciência Histórica dos homens do passado, que não vivenciaram o processo de modernização, ou dos homens da atualidade, que vivem à margem da sociedade e são resistentes à modernização. Para ele os períodos da história, a localização geográfica e as classes sociais são determinantes na formação da Consciência Histórica. Como afirma Gadamer:

O aparecimento de uma tomada de consciência histórica constitui provavelmente a mais importante revolução pela qual passamos desde o início da época moderna. (...) A consciência histórica que caracteriza o homem contemporâneo é um privilégio, talvez mesmo um fardo que jamais se impôs a nenhuma geração anterior. (...) Entendemos por consciência histórica o privilégio do homem moderno deter plena consciência da historicidade de todo o presente e da relatividade de toda opinião. (GADAMER in CERRI, 2015. p.97)

Percebe-se a importância da Consciência Histórica na atualidade, uma vez que os processos históricos “Modernização e Globalização” foram alguns dos responsáveis pela homogeneização das culturas e histórias, prejudicando a formação indenitária do indivíduo e dificultando a formação da consciência histórica do homem. É neste ponto que a educação precisa exercer sua função de formação e aperfeiçoamento da identidade social e consciência histórica do aluno.
Para a historiadora e filósofa Agnes Heller, a Consciência Histórica é inerente ao homem, natural do ser humano. Para ela a Consciência Histórica é composta de estágios: criação de normas de convivência, em substituição do instinto; significação e identificação do grupo enquanto humanidade; concepção do mundo como histórico, percepção e comparação de outras culturas, em espaços e tempos diferentes. O historiador e filósofo JörnRüsen apresenta a Consciência Histórica como prática natural e universalmente humana. O homem age intencionalmente e, através de seu diálogo com a natureza, com os outros homens e consigo mesmo, passa a interpretar e significar o mundo, significar o tempo. Para Rüsen (2001) o que varia são as perspectivas de atribuição de sentido à experiência temporal. Na definição do autor, a consciência histórica é um fenômeno do mundo vital, imediatamente ligada com a prática (CERRI, 2015, p.100).É neste ponto que tanto Heller quanto Rüsen contrapõem-se à teoria de Gadamer, pois, para eles a Consciência Histórica é natural à existência humana, independente da classe social, do tempo histórico, da localização geográfica ou do processo de modernização.

Neste ponto, tanto Heller quanto Rüsen advogam que o pensar historicamente é um fenômeno antes de mais nada cotidiano e inerente à condição humana, com o que pode-se inferir que o pensamento histórico vinculado a uma prática disciplinar no âmbito do conhecimento acadêmico não é uma forma qualitativamente diferente de enfocar a humanidade no tempo, mas sim uma perspectiva mais complexa e especializada de uma atitude que, na origem, é cotidiana e inseparavelmente ligada ao fato de estar no mundo. A base do pensamento histórico, portanto, antes de ser cultural ou opcional, é natural: nascimento, vida, morte, juventude, velhice, são as balizas que oferecem aos seres humanos a noção do tempo e de sua passagem. (CERRI, 2015, p.100)

O historiador francês Marc Ferro traz uma contribuição importante para o presente estudo em torno do conceito de Consciência Histórica. Marc Ferro apresenta a ideia de multiplicidade de “focos da consciência histórica”, onde defende a existência de vários focos culturais e institucionais de consciência histórica, abandonando a ideia da existência de apenas uma consciência histórica social, levando em consideração tanto a história oficial/política, quanto a “contra-história”.
A Consciência Histórica, além de vital e inerentea existência humana, pode também ser uma grande “arma” de dominação ideológica. O indivíduo pode ter uma formação generalizadora da Consciência Histórica, produzida pela classe dominante, em detrimento das identidades múltiplas e particulares dos diferentes grupos sociais. De modo que a articulação dos elementos da consciência histórica torna-se arma no campo de batalha de definição dos rumos da coletividade(CERRI, 2015, p.100)E por isso, esse conceito e prática, precisa de atenção especial por parte dos profissionais da história, de um maior aprofundamento de pesquisas acadêmicas,além de melhor e maior organização e articulação da educação básica para contribuir na formação e aperfeiçoamento de uma Consciência Histórica crítica, analítica e interpretativa, fugindo da relação poder-tradição, onde a tradição é apresentada por Rüsen, como a “pré-história” da Consciência Histórica, sendo genérica e anterior a experiência e interpretação.
O ensino de história ou conhecimento histórico transcende a escola e a sala de aula, e passa a ter uma função social, com a necessidade de perpetuação e significação do grupo.Por isso a necessidade do aprimoramento de uma Consciência Histórica já existente na sociedade, no ser humano, uma consciência que se encontranos alunos quando chegam ao espaço escolar, que precisa ser trabalhada, aperfeiçoada, com objetivos libertários, formadores de identidade, com caráter heterogêneo e significativo na historicidade e cotidiano do aluno. Um fenômeno vital, inerente, mutável, que tem importância social, cultural e política, e, portanto, precisa ser constantemente articulado.

(...) o que nos conduz para a conclusão de que a formação histórica dos alunos depende apenas em parte da escola, e que precisamos considerar com interessa cada vez maior o papel dos meios de comunicação de massa, da família e do meio imediato em que o aluno vive se quisermos alcançar a relação entre a história ensinada e a consciência histórica dos alunos (CERRI, 2015, p.107).

Precisa-se ser discutido nas academias e escolaso uso social do ensino de história,

e começar a pensar o ensino de história institucionalizado como um fenômeno social de longa duração, cujas motivações e cuja lógica não estão limitadas às discussões contemporâneas sobre objetivos, conteúdos e métodos para a disciplina. (CERRI, 2015, p.110)


Entende-se, então, existira necessidade de diminuir possíveis limitaçõesexistentes no ensino de história, com o desenvolvimento, pelos professores de uma prática de pesquisa, precisam tratar a pesquisa em Didática da História como uma necessidade social, que vai além dos muros da escola e transcende a relação aluno-professor. Sendo assim, o profissional da história tem uma responsabilidade social com a cultura histórica e a consciência histórica.

5. Didática da História- Geschichtsdidaktik: Significando a História

A discussão sobre consciência histórica coloca-nos diante da necessidade de dar continuação à proposição de Klaus Bergmann e de JörnRüsen, entre outros autores, de uma didática da história” (CERRI, 2015, p.109). A Didática da História- Geschichtsdidaktik- é considerada pelos alemães como uma ciência interna a Ciência Histórica. Segundo Rüsen, por causa da diferença qualitativa existente entre a história-ciência e história-escolar, precisa-se de uma disciplina científica específica que se ocupe do ensino e da aprendizagem da história.Essa nova ciência didática seria uma subárea da História, ao invés de ser subordinada à educação, como é entendido no Brasil. Nesta vertente, a Didática da História deixa de ser entendida como facilitadora da transmissão do saber erudito ao saber escolar, ou como colecionadora de métodos usados em sala de aula. “Na proposição de Bergmann, a metodologia do ensino da história torna-se apenas uma das preocupações da didática da história”.
Nesse sentido [a Didática da História] se preocupa com a formação, o conteúdo e os efeitos da consciência histórica”(CERRI, 2015, p.110), ou seja, essa ciência estuda, ao mesmo tempo que faz parte, da Cultura Histórica, a qual engloba a formação da consciência histórica, não restritamente em sala de aula, mas ao meio em que o aluno e o professor vivem e têm acesso: meios de comunicação- redes sociais, mídias, cinema; meio familiar; religioso, entre outras instituições. A Didática da História se atém ao estudo da dinâmica social, que constitui o processo histórico, a formação da cultura histórica e a modificação da consciência histórica.
Tanto a Consciência Histórica quanto a Cultura Histórica, são objetos de estudo e pesquisa dos historiadores da Didática da História. Mas qual a diferença entre esses dois conceitos? A primeira, é interna, subjetiva e natural ao individuo. Enquanto a segunda, é externa, objetiva e fenômeno do cotidiano. “A cultura histórica é a forma de expressão da consciência histórica”. (CARDOSO, 2015, p. 158)
A Didática da História possui três fases: A teórica, a empírica e a pragmática. Portanto, caracteriza-se por ser uma ciência teórica e prática.O professor/pesquisador Oldimar Cardoso apresenta a prática da Didática da História, como “pesquisa de campo didático-histórico”. “Portanto, o lugar da pesquisa de campo didático-histórica é o cotidiano das aulas de História ou de qualquer espaço de expressão da cultura ou da consciência históricas” (CARDOSO, 2015, p. 162).
Nesta perspectiva, cabe propor a iniciativa metodológica da teoria da História Regional como fundamento e método de pesquisa de campo didático-histórico. A discussão acerca do conceito Consciência Histórica levou alguns historiadores a propor conceituações e significados, e alguns deles foram: C.H. como identidade e memória coletiva, e C.H. como sistematização dos conceitos históricos- Passado, presente, futuro- e de seus elementos- comparação, investigação, periodização, relação, criticidade, temporalidade histórica, entre outros.
Com isso, percebe-se a existência de duas fases da C.H., a primeira é a consciência inerente ao homem e natural, que forma a identidade e a memória coletiva, precisa ser aperfeiçoada para que o indivíduo consiga alcançar a segunda fase da consciência histórica, fase de sistematização e criticidade. E para que esse processo contínuo de formação da Consciência Histórica ocorra positivamente, propomos e destacamos a colaboração da teoria da História Regional na formação e aperfeiçoamento da Consciência Histórica do aluno. Essa teoria trabalhada em sala de aula como método de pesquisa (regional), facilitará a compreensão do aluno sobre os conceitos e sistematizações formativos da Consciência Histórica e da Cultura Histórica, uma vez que esta metodologia de estudo e pesquisa regional permitirá a aproximação História-Aluno ou Conteúdo programático-Realidade do aluno. Defende-se aqui, pois, a união entre a História Regional e a Didática da História, com o objetivo de melhor trabalhar a formação e o aperfeiçoamento da Consciência Histórica do aluno em sala de aula, e fora dela.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acredita-se que esse trabalho poderá contribuir com uma visão diferenciada sobre a ciência histórica e a educação histórica brasileira. Levando em consideração os desafios e a desvalorização da educação histórica e de sua disciplinariedade, tanto na escola, quanto na sociedade. Considerando algumas perspectivas teóricas e conceituais da Ciência Histórica como a História Regional, a Didática da História e a Consciência Histórica busca-se apresentar e desenvolver alguns caminhos metodológicos que possibilitem a formação e o aperfeiçoamento da Consciência Histórica do aluno, através da utilização da micro-abordagem da História Regional, e tendo por base o conceito alemão Geschichtsdidaktik, que significa uma Didática da História subordinada a Ciência Histórica, ao invés de submetida à Educação, como acontece no Brasil.
Procuramos definir e conceituar o Regional, e apresentar a historiografia responsável por esta abordagem histórica e sua adaptação ao PCN. Em seguida, nos preocupamos com a formação da Identidade do aluno e sobre as várias teorias e dialéticas existentes a respeito da Consciência Histórica. E para concluir, apresentamos a ciência Didática da História, uma ciência interna à Ciência Histórica, que pode auxiliar na compreensão acerca da formação social e escolar da Consciência Histórica do aluno.

REFERÊNCIAS
BITTENCOURT. Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Editora Cortez, 2005.
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Parâmetros nacionais de qualidade para terceiros e quartos ciclos do ensino fundamental - História. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica: Brasília (DF), 2006.
CARDOSO. Oldimar. Para uma definição de Didática da História. Disponível em: <http://www.scielo.br/>Acesso em 13 de fev. 2015
CERRI. Luis Fernando, Os conceitos de consciência histórica e os desafios da didática da história. Disponível em: <http://www.revistas2.uepg.br>. Acesso em 5 de fev. 2015.
___________________. Regionalismo e Ensino de História.Disponível em:
VASCONCELOS. José Antonio. Fundamentos Epistemológicos da História. Curitiba: Editora IBPEX, 2009.
VIEIRA. Maria do Pilar de Araújo e outros. A pesquisa em história. 5.ed. São Paulo: ática, 2007.






[1]Licenciada em História pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo – Campus São Joaquim.  Especialista em Metodologia do Ensino de História e Geografia da Universidade Internacional- UNINTER. Pós-graduanda em Formação Docente para o Ensino Superior- Centro Universitário Salesiano de São Paulo- UNISAL. 
[2]Orientadora. Mestre em Educação pela Universidade Regional de Blumenau (FURB) e doutoranda em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP).